O fim gradual das rendas congeladas está a criar distorções de mercado. Proprietários vão continuar a preferir arrendar casas a turistas.
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Há por todo o lado os ruídos de construções novas, de demolições e de restauros, mas ainda é cedo para se dizer que o mercado de arrendamento em Portugal, mais concretamente nas cidades de Lisboa e Porto, está de boa saúde e se recomenda. É o Financial Times (FT) quem deixa o alerta, na edição do caderno imobiliário desta terça feira.
Numa reportagem assinada por Peter Wise, o reputado matutino londrino diz que a reforma do arrendamento urbano, iniciada em 2012 está numa “embrulhada”. “O abandono gradual de congelamento das rendas continua a criar distorções de mercado”, escreve Peter Wise. O repórter ouviu inquilinos, senhorios, consultores e promotores imobiliários para concluir que a reforma imposta pelo fundo Monetário Internacional, aquando do programa de assistência financeira, acabou por levar um travão a fundo.
“O período de transição de cinco anos dado para proteger principalmente os inquilinos mais pobres e idosos de um mercado mais liberalizado está a aproximar-se. Mas o governo socialista está a propôr prolongar a fase de transição por mais cinco anos”, lê-se no jornal.
Em declarações ao FT, o Presidente da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP), Luís Menezes Leitão, afirma: “Este travão vai matar o mercado de arrendamento em Portugal. A reforma criou expectativas de uma mudança positiva, mas com o recuo em curso os proprietários estão a perder a sua confiança e a desapostar no mercado imobiliário”. Luís Lima, presidente da associação das mediadoras imobiliárias, refere que “os senhorios são fortemente penalizados em sede de impostos”, e que, enquanto isso acontecer, não existirá um verdadeiro mercado de arrendamento em Portugal. Romão Lavadinho, representante dos inquilinos, diz que já foram anunciadas muitas reformas do arrendamento e feitas muitas promessas, mas nunca nenhuma delas chegou a bom porto. Os impactos, porém, já se sentiram, sobretudo para os inquilinos que passaram de pagar uma renda de 60 euros para 500 euros por mês.
“Enquanto os anos passam, o mercado de rendas congelado [rendas com contratos assinados antes de 1990] vai ficando cada vez mais residual. Mas, conclui o repórter do Financial Times, mesmo num mercado completamente liberalizado “muitos estão cépticos quanto ao facto de os proprietários virem algum dia a preferir ter arrendamentos de longa duração em vez de seguirem pela opção mais lucrativa de os arrendar a turistas”.
https://www.publico.pt/2017/03/14/economia/noticia/finantial-times-fala-sobre-embrulhada-na-reforma-do-arrendamento-em-portugal-1765159